Riquezas
são diferentes/
Miséria
é miséria em qualquer canto/
Fracos,
doentes, aflitos, carentes/
Riquezas
são diferentes/
O
Sol não causa mais espanto/
Miséria
é miséria em qualquer canto/
Cores,
raças, castas, crenças/
Riquezas
são diferenças”
(Paulo Mikos, Sérgio Britto e Arnaldo
Antunes)
Não
é novidade...
Em janeiro deste ano, meio que no centro dos blocos de
notícias da Operação Lava-jato da Polícia Federal (em meio acerca de suas 300
operações em 2015) – já que outros temas da política brasileira estavam de férias – e dos
blocos de carnaval que se aqueciam para o fevereiro que se aproximava, uma
notícia deveria ter sido recebida como espanto e indignação, daqueles de fazer bater panelas de marca: a ONG britânica Osfam (com as devidas suspeitas) divulgava os
resultados de um estudo sobre a concentração econômica mundial: o 1% mais rico
do mundo já detém a riqueza equivalente ao resto do mundo.
Na matemática curta e grosseira, algo mais ou menos
assim:
Somos 7,4 bilhões de habitantes no mundo. Destes, 74 mil
pessoas detêm a mesma riqueza que “7,4 bilhões menos 74 mil”.
O funil, entretanto, é maior.
Tentei encontrar, nestes 74 mil, quem são os seus 1%
(740) mais ricos... Tarefa difícil para quem não é economista, acho. Claro, não
consegui. Mas achei os 63 “top-money”, ou seja, menos de 1% dos 1%, dos 1% mais
ricos do mundo.
Apenas nestes “top-money”, a riqueza é algo em torno de $
1,761 trilhão de dólares. Só esses 63 indivíduos.
– Tudo dinheiro honesto, fruto da meritocracia e do “Deus
apontou pra mim” e tals, certo? (Strovézio).
– Receio que não, caro palhaço...
– ‘Tava sendo irônico...
– ... ops!
Seguimos...
A mesma fundação também concluía que este seleto grupo de 63 indivíduos
tem tanto dinheiro e bens (talvez mais o segundo do que o primeiro) quanto a
metade da população do planeta... são 63 pessoas que possuem riqueza e bens
equivalentes a 3,7 bilhões de pessoas.
Parece-me que responde a ironia do Strovézio.
Pois bom...
Em 1776, o economista Adam Smith (nascido na Escócia e,
portanto, amadurecido em um contexto de desenvolvimento das forças produtivas
da Economia Inglesa) afirmava: “Onde quer
que haja grande propriedade, há grande desigualdade. Para cada pessoa muito
rica DEVE HAVER no mínimo quinhentos pobres, e a riqueza de poucos supõe a
indigência de muitos. A fartura dos ricos excita a indignação dos pobres, que
muitas vezes são movidos pela necessidade e INDUZIDOS PELA INVEJA a invadir as
posses daqueles”. Isso está na Obra “A riqueza das Nações” e a caixa alta é
de minha responsabilidade.
Ou seja: possivelmente o mundo reúne, hoje, cerca de 3,7
bilhões de habitantes (lembrem-se: é uma conta grosseira) movidos pela indigência da riqueza alheia, indignados,
porquanto movidos pela necessidade e, também, pela inveja. Adam Smith, o “pai
da economia moderna” e talvez avô respeitado da economia pós-moderna (que conhecemos
como neoliberal), parece que nos dava mais do que uma conta inicial. Claro, era
um economista.
Quanto publicou sua obra, o mundo tinha aproximadamente
800 milhões de habitantes.
– Vais fazer conta, Russo (Strovézio)?
– Vou sim, Strovézio... Mas, continha simples, sem
calculadora científica...
Cada 1 habitante rico para cada 500 pobres invejosos implicaria,
à época, na existência de 1 milhão e 600 mil ricos e, por outro lado, 798,4
milhões de incompetentes (mas necessários) pobres... invejosos.
Eis que cerca de 2 ½ séculos depois, esta matemática
original de Adam Smith alcança números impensáveis, talvez, até para ele mesmo.
Se minha “regra de três” não me enganou, temos algo como 117 milhões de pobres (invejosos,
culpados por sua pobreza, não nos esqueçamos) para cada um dos 63 abençoados
pelo lugar ao sol dos 1% mais ricos. Os demais 1% não têm do que reclamar...
Enfim, um outro dado que parece-nos importante: a
abençoada competência daqueles 63 indivíduos concentra áreas como tecnologias,
telecomunicações, bebidas e comidas, roupas e supermercados (que vendem
tecnologias, telecomunicações, bebidas e comidas e roupas), além de outras
particularidades. Ou, de outro ponto de vista, a incompetência (e inveja)
daquele balaio de pobres mundo afora, precisam dominar a produção de
tecnologias, telecomunicações, bebidas e comidas e vestimenta... além dos
supermercados, claro. Enquanto isso, consomem o que aqueles produzem...
Para Adam Smith, no século XVIII, e para a corja social
burguesa que seu pensamento continuou reproduzindo até os dias de hoje, são,
portanto, culpados os povos que recebem lixos tecnológicos
![]() |
http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com.br/2009/08/ lixo-tecnologico-criancas-envenenadas.html |
São culpados os que precisam dos lixões para comer e
beber...
São culpados os que, nos porões mais escondidos – e de
trabalhos análogos ao escravo – não sabem fazer suas próprias roupas e, as que
fazem, é para o fetichismo humano, inclusive dos tantos e tantos que acham que
podem entrar no “top-money”, apenas usando suas marcas... sujas de exploração.
![]() |
http://www.gilgiardelli.com.br/blog/sapatos-lustrosos-e-os-homens-sem-sapatos-da-india/ |
Pensem nisso quando comprarem seus aparelhos eletrônicos,
suas roupas de marcas famosas e caras, seus lanches, refrigerantes e outras
tantas refeições afora...
Não... não somos hipócritas.
Temos nossas contradições e nossa luta é enfrenta-las
todos os dias.
Das roupas de marca, penso já ter superado. Nada como
calças sem marca, sandálias de couro e camisetas mais simples – quase um
franciscano... ainda que ateu – para ajudar neste exercício.
Das tecnologias, venho cumprindo o sólido (apesar de
individual e, portanto, sem efeito) exercício de não trocar o que tenho por
algo novo só porque é mais novo... Claro, isso me leva a “ir ficando” atrasado
nas tecnologias. Tipo, “vou e fico, fico e não vou!”.
Assim também com o que como e bebo.
Ademais, confiamos no que acreditamos e, do que
acreditamos, na nossa capacidade de ser cada vez mais a síntese de nossa prática
social.
Venham Todos!
Venham Todas!