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VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 8 de maio de 2011

Mainha...



Ninguém vai conseguir matar aquele tempo,
Ninguém vai conseguir jamais: nem nós (...)”
(Janela sobre uma mulher/3 – Eduardo Galeano)

            Foram tempos diferentes, aqueles...
            Sempre que o Universal Circo Crítico faz suas viagens no tempo, sabemos disso.
            Havíamos nos mudado, um ano antes, para um apartamento, na Rua Dr. Cesar, Bairro de Santana, Zona Norte de São Paulo... pertinho do metrô.
            Nos primeiros tempos do apartamento, recordo-me de meu pequeno e infantil fetiche de “andar de elevador”. Painho/mainha ainda tinham o enorme Ford Galax que era meio espaçoso para guardá-lo na garagem do prédio, que era subsolo e, sempre que saiam, meio que assustavam os pedestres, pois era uma pequena rampa para a rua e ele/ela tinha que fazê-lo buzinando.
            Talvez tenha sido o tamanho do carro (enorme para crianças de 7 e 9 anos, à época) que fez painho trocar o velho Ford Galax cinza pelo lendário Maverick. Mas este tinha um moderníssimo Toca-fitas, e escutávamos Beth Carvalho, Elis Regina e Saltimbancos, e eu e minha irmã disputávamos o refrão puxado de “O Jumento” (mas eu sempre adorei o Cachorro da história) sempre que mainha colocava a fita (“O pão, a farinha, feijão, carne seca quem é que carrega? Hi-ho!”).
            Já em nosso apartamento (eram apenas dois por andar, e morávamos no 5º andar, com uma vista bacana – hummm... – da cidade), lembro que mainha tinha uma criação de passarinhos e um piano, do tipo baú.
            Vez por outra (mais vez que por outra), mainha tocava e, entre as outras vezes, com a porta do apartamento aberta. Lembro uma vez que nossos vizinhos resolveram seguir o som daquela música que mainha tocava e, que interessante e feliz coincidência, o fizeram numa das vezes em que a porta do apartamento estava aberta. E mainha tocou, orgulhosa toda, para as visitas.
            Também tínhamos um violão, um Del Vecchio, cuja fábrica não existe mais há muito tempo e que, segundo mainha, havia sido presente do Velho Vô Hiram e que tinha uma acústica fantástica que, à bem da verdade, meus razoavelmente bem treinados ouvidos nunca mais testemunharam outra igual. Mainha o tocava também, mas preferia o piano. Talvez por isso – e por minha particular qualidade musical, herança de minha artística família (nem todos da minha geração tiveram essa... sorte!) – foi no piano que tive minhas primeiras viagens musicais.
            Minha professora era a minha vó materna, Vó Célia. Tínhamos aulas duas vezes por semana, na casa dela. Eu estudava pela manhã (estava na 2ª série do primário – hoje Ensino Fundamental) e a tarde estudava piano.
            Gostava do passeio à Vila Madalena, onde minhas aulas aconteciam. Aprender a ler partitura (isso eu já esqueci) e “educar o ouvido”, ficando de costas para o piano enquanto minha vó tocava nas teclas para que eu dissesse as notas. Adorava as difíceis, quando ela me testava e tocava as teclas pretas, as sustenidas. E, claro, o bolo de cenoura com cobertura de chocolate após a aula.
            Em casa, entre minhas brincadeiras particulares (minha irmã estudava a tarde), meus desenhos no canal 7 e os estudos do piano, minha primeira incursão autônoma, “de ouvido”, foi Asa Branca. E nesta minha primeira incursão, tocávamos, eu e mainha, a quatro mãos. E tocávamos Asa Branca.
  O Piano que ainda sei que arranho (o suficiente para, em tempos do Afã – a lendária e desconhecida Banda de Rock de meus tempos paulistanos – ter uma música composta in-te-i-ra-men-te no piano) e o violão que me acompanha a vida até hoje (que, reitero, não tem a mesma acústica do bom e velho Del Vecchio de mainha) devo a estes tempos: de aulas de piano com minha vó, de estudos e treino em casa e de Asa Branca a quatro mãos com mainha.
  Tenho saudades destes tempos (que eram duros para meus pais, avó, tias... coisas da Ditadura). Mas, que bom que ninguém conseguirá acabar com os BONS TEMPOS daqueles tempos.

            Vida Longa a mainha!

            Venham Todos!
            Venham Todas!

            Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

9 comentários:

  1. Marcelo!
    Eu vi... eu vi bem na minha frente, todas as cenas que vc descreveu em seu texto!
    Que lembranças boas...
    e elas estão todas naquilo que mostras para nós!
    Um grande abraço!
    Myrian Carvalho

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  2. Oi Marcelo,
    As suas lembranças, são para nós, mães de pequenos lutadores, um belo estímulo para vivermos momentos felizes com os nossos filhos e podermos acreditar que um dia, eles poderão viver essas boas lembranças de nós. Bjos a você a sua admirável "Mainha".

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  3. Para mim, que serei "mainha" em uns 5 meses, é maravilhoso saber que existem filhos que têm orgulho de suas genitoras. Espero que esse rebento que carrego possa, um dia, falar com o mesmo carinho sobre mim e sobre as coisas que lhe ensinarei.
    Grande abraço professor Marcelo. Sua fã: Paula Oliveira (Secretaria Executiva/UFPA Castanhal)

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Olá Prof Marcelo.
    Gostei muito do texto. Fico imaginando as imagens de tudo o que você escreveu. É lindo o jeito que são descritos os acontecimentos da sua infância, parece tudo tão tranquilo e agradável.
    Abraços

    Vanessa

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  6. Salve, Salve, Myrian, quanto tempo.
    Como diria o ditado popular: "O passado é necessário", pois se faz presente em nossos atos para, também, do futuro.
    Nosso circo sauda sua visita!
    abreijos
    Há braços!

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  7. Querida Vejuse.
    Vida Longa às mães Lutadoras do Povo e que olham para seus pequenos como tal.
    Abreijos!

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  8. Olá, Paula.
    O Universal Circo Crítico está ansioso pela chegada de seu mais novo pequeno ou pequena...
    VIda Longa!

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  9. Olá, Vanessa.
    Seja muito bem vinda ao nosso picadeiro, ao nosso público.
    Sempre lembrarei destes tempos, percebendo-os em sua condição de tensões pelas quais meus pais, avô/avó, tias/os viviam, principalmente nos anos 70...
    Heróis e Lutadores, Heroínas e Lutadoras que conseguiram construir a vida de seus filhos em meio às incertezas das tensões políticas.
    Abraço!
    Há braços!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira