“Um coração, de mel de melão
de sim e de não, é feito um bichinho..”
(Da música “Clara e Ana” – da Joana, acho)
de sim e de não, é feito um bichinho..”
(Da música “Clara e Ana” – da Joana, acho)
Lembro de algumas coisas...
Adorava deitar em seu colo para ela “limpar meus ouvidos”. Mas o colo era, também, e muitas vezes apenas... colo.
Também recordo, acho que com meus 7 anos, que fomos assistir a uma apresentação da Praça da Luz, em São Paulo – era um final de semana, sábado talvez. Música ao vivo e ao ar livre, nós, sentados em roda, no chão (grama), um certo fim de tarde de um fresco e leve dia de outono. Eu apareci na televisão, à noite... a câmara estava registrando a pequena platéia, devagarzinho, devagarzinho e, quase na hora de cortar a cena, lá estávamos... Bem na hora.
Não lembro ao certo quando a vi com o violão no colo, tocando com leveza e cantando num tom bem alto (comum na voz feminina – a afinada – família). Mas lembro que ela dedilhava uma bela canção que, em homenagem ao velho Hiram, seu pai, meu avô, resolveu colocar uma letra naquela melodia. Assim que ela a tocou, pedi o violão e resolvi tocar também. Tá! Não foi, obviamente, aquela maestria e nem era um talento prodígio (ainda bem...). Mas não há dúvidas que minha relação com o violão, e com a música em geral, começou ali... naquela música... com ela.
Sempre a vi com um olhar de, digamos, “alguém que sempre vai precisar de proteção”. E, que ironia, sempre corria aos seus braços pedindo, quase sempre silenciosa ou chorosamente, essa proteção.
Quando cortei a testa (que emoção, os primeiros de meus 78 pontos espalhados pelo corpo) numa brincadeira de pega-pega com minha irmã, pelos corredores do andar de cima da casa (era tão grande naqueles meus 5 anos), lá estava ela atenta, com o bom e velho bandaid... anos mais tarde, quando “trinquei” um ossinho do metacarpo da mão direita, ela que reparou no tom roxo da palma de minha mão e lá vamos estrear o gesso... De repente, por conta do gesso da mão-braço direita, em plenas férias de julho, é ela quem literalmente descobre: “Ele é canhoto!”.
A memória de minhas férias mais remotas também me levam, quase que inequivocadamente, a ela: passeio pelo Horto Florestal, eu que já conhecia os caminhos e descaminhos das trilhas locais, e ela preocupada e assustada com a possibilidade de eu me meter naquela mata e me perder. Eu tinha 8 anos e desde os 4, quando ia com painho buscar água na bica (o povo de São Paulo ainda faz isso?), me metia a brincar no mato. Mas ela não sabia... e, assim que ela me dá as costas enquanto eu brincava no parque, me enfiei na mata. É claro que ela percebeu, é claro que ela me “puxou a orelha” quando voltei ao parque – tentando enganá-la – e é claro que ela puxou a orelha de painho por saber, no alto de meus pequenos 8 anos de idade, que eu já fazia aquilo desde os 4 anos.
É verdade que, conforme ia crescendo, ficava entre continuar a respeitar os limites espaciais que ela me “sugeria” e os horizontes de meus sonhos. A música e o esporte (sim, era até que bem organizado “motoramente”) sempre me instigavam isso, a romper limites. Com o tempo, as manifestações de “estou indo um pouco mais longe” aconteciam com o testemunho de seus incomodados olhos: um passeio com a escola para o outro lado da cidade; um passeio com a escola para um lado de outra cidade. Uma festa no quarteirão de casa; uma festa no bairro; uma festa um pouco mais longe. Andar de bicicleta em frente de casa (no máximo, atravessando a rua); andar de bicicleta na rua de baixo (aquela, da estréia do Arca Mundo); andar de bicicleta no bairro; ir de bicicleta até o outro lado da cidade. O tempo passa, e, certo dia, vou para mais de dois mil km de distância.
Ainda no convívio comum espacial, quando minhas viagens musicais ainda reinavam mais os desejos do que a sua concretude (o Afã durou bons e criativos três anos) e naquela mania e ansiedade de pegar o violão e compor – ainda que as vezes “inspirado” pelas músicas que aprendia, as vezes ousando acordes próprios – saiu uma canção para ela, que ainda não a apresentei nem aqui, nem no ArcaMundo. Mas, sobre a canção, é outra história, para um outro momento.
Hoje, a distância faz com que a gente fique longe acerca de 15 anos. Visitas esporádicas, visitas surpresas, visitas marcadas, visitas não acontecidas... E assim, vai-se caminhando. Vez por outra, também, uma conversa rápida por e-mail, um bate-papo por telefone...
Cada uma sabe a que tem, cada uma sabe a que “adotou”. É verdade que, ao longo de minha vida, adotei e des-adotei mães. Mas, em que pese a velha piada do Juquinha (ou Joãozinho, como queiram), “Mãe, só tem uma!”...
Às mães que adotei pelo caminho e, em especial à Glauce, um feliz Dia das Mães.
À mainha, a mais velha do velho e inquestionável lutador do povo, Hiram de Lima Pereira, a diuchinha... Feliz Sempre Dia das Mães.
Vida Longa!
Adorava deitar em seu colo para ela “limpar meus ouvidos”. Mas o colo era, também, e muitas vezes apenas... colo.
Também recordo, acho que com meus 7 anos, que fomos assistir a uma apresentação da Praça da Luz, em São Paulo – era um final de semana, sábado talvez. Música ao vivo e ao ar livre, nós, sentados em roda, no chão (grama), um certo fim de tarde de um fresco e leve dia de outono. Eu apareci na televisão, à noite... a câmara estava registrando a pequena platéia, devagarzinho, devagarzinho e, quase na hora de cortar a cena, lá estávamos... Bem na hora.
Não lembro ao certo quando a vi com o violão no colo, tocando com leveza e cantando num tom bem alto (comum na voz feminina – a afinada – família). Mas lembro que ela dedilhava uma bela canção que, em homenagem ao velho Hiram, seu pai, meu avô, resolveu colocar uma letra naquela melodia. Assim que ela a tocou, pedi o violão e resolvi tocar também. Tá! Não foi, obviamente, aquela maestria e nem era um talento prodígio (ainda bem...). Mas não há dúvidas que minha relação com o violão, e com a música em geral, começou ali... naquela música... com ela.
Sempre a vi com um olhar de, digamos, “alguém que sempre vai precisar de proteção”. E, que ironia, sempre corria aos seus braços pedindo, quase sempre silenciosa ou chorosamente, essa proteção.
Quando cortei a testa (que emoção, os primeiros de meus 78 pontos espalhados pelo corpo) numa brincadeira de pega-pega com minha irmã, pelos corredores do andar de cima da casa (era tão grande naqueles meus 5 anos), lá estava ela atenta, com o bom e velho bandaid... anos mais tarde, quando “trinquei” um ossinho do metacarpo da mão direita, ela que reparou no tom roxo da palma de minha mão e lá vamos estrear o gesso... De repente, por conta do gesso da mão-braço direita, em plenas férias de julho, é ela quem literalmente descobre: “Ele é canhoto!”.
A memória de minhas férias mais remotas também me levam, quase que inequivocadamente, a ela: passeio pelo Horto Florestal, eu que já conhecia os caminhos e descaminhos das trilhas locais, e ela preocupada e assustada com a possibilidade de eu me meter naquela mata e me perder. Eu tinha 8 anos e desde os 4, quando ia com painho buscar água na bica (o povo de São Paulo ainda faz isso?), me metia a brincar no mato. Mas ela não sabia... e, assim que ela me dá as costas enquanto eu brincava no parque, me enfiei na mata. É claro que ela percebeu, é claro que ela me “puxou a orelha” quando voltei ao parque – tentando enganá-la – e é claro que ela puxou a orelha de painho por saber, no alto de meus pequenos 8 anos de idade, que eu já fazia aquilo desde os 4 anos.
É verdade que, conforme ia crescendo, ficava entre continuar a respeitar os limites espaciais que ela me “sugeria” e os horizontes de meus sonhos. A música e o esporte (sim, era até que bem organizado “motoramente”) sempre me instigavam isso, a romper limites. Com o tempo, as manifestações de “estou indo um pouco mais longe” aconteciam com o testemunho de seus incomodados olhos: um passeio com a escola para o outro lado da cidade; um passeio com a escola para um lado de outra cidade. Uma festa no quarteirão de casa; uma festa no bairro; uma festa um pouco mais longe. Andar de bicicleta em frente de casa (no máximo, atravessando a rua); andar de bicicleta na rua de baixo (aquela, da estréia do Arca Mundo); andar de bicicleta no bairro; ir de bicicleta até o outro lado da cidade. O tempo passa, e, certo dia, vou para mais de dois mil km de distância.
Ainda no convívio comum espacial, quando minhas viagens musicais ainda reinavam mais os desejos do que a sua concretude (o Afã durou bons e criativos três anos) e naquela mania e ansiedade de pegar o violão e compor – ainda que as vezes “inspirado” pelas músicas que aprendia, as vezes ousando acordes próprios – saiu uma canção para ela, que ainda não a apresentei nem aqui, nem no ArcaMundo. Mas, sobre a canção, é outra história, para um outro momento.
Hoje, a distância faz com que a gente fique longe acerca de 15 anos. Visitas esporádicas, visitas surpresas, visitas marcadas, visitas não acontecidas... E assim, vai-se caminhando. Vez por outra, também, uma conversa rápida por e-mail, um bate-papo por telefone...
Cada uma sabe a que tem, cada uma sabe a que “adotou”. É verdade que, ao longo de minha vida, adotei e des-adotei mães. Mas, em que pese a velha piada do Juquinha (ou Joãozinho, como queiram), “Mãe, só tem uma!”...
Às mães que adotei pelo caminho e, em especial à Glauce, um feliz Dia das Mães.
À mainha, a mais velha do velho e inquestionável lutador do povo, Hiram de Lima Pereira, a diuchinha... Feliz Sempre Dia das Mães.
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
Obs.1: A foto é da mainha... não publiquei o artigo no próprio domingo por estar em deslocamento pelo país bem neste dia e cheguei tarde ao meu destino.Obs.2: Estou falando da minha mãe... Não dá p’ra plagiar, né?
Nostalgia certa... :-)
ResponderExcluirMinha mãe também limpava meu ouvido - e eu sempre usava isso como desculpa pro colo.. Hoje são os cravos - mesmo na minha "velhice".
Lembranças, recordações e muito carinho de mãe nos fazem ser o que somos hoje.
Feliz mais um dia das mães (afinal são todos) e mais um texto que mexe...
@>--'--
Oi,Marcelo,estou aqui só pra não dizer que não Falei das flores,e que li todas as suas crõnicas/anacrõnicas(no bom sentido!).Muito bom poder dialogar com nossos pares temas e reflexoes de grande significado existencial.Ando meio enrolada com relação as dimensoes tempo/espaço(cuidando de probemas do cotidiano,digo que estou presa no rolo compressor)Um forte abraço!Leidjane
ResponderExcluirOi,Marcelo,estou aqui só pra não dizer que não Falei das flores,e que li todas as suas crõnicas/anacrõnicas(no bom sentido!).Muito bom poder dialogar com nossos pares temas e reflexoes de grande significado existencial.Ando meio enrolada com relação as dimensoes tempo/espaço(cuidando de probemas do cotidiano,digo que estou presa no rolo compressor)Um forte abraço!Leidjane
ResponderExcluirGrande amigo Russo...
ResponderExcluire com enorme prazer que recebo a noticia que vc virá para o Pará...
Confesso que fiquei emocionado com seu blog, seu depoimento sobre nossa cultura eh magnifica...
ja nos vejo transitando por este cenario folcloricoo e trocando ideias sobre nossas lutas...
serás um gas enorme no movimento daqui...
Venha e nao demores..
Estamos de Bracos abertos a te esperar..
um abraço Paid'egua meu amigo...
Derick Carvalho
bom comeco
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