
“Amigos serão amigos... até o fim”
(Brian May e Freddie Mercury)
Quando recebi a série de fotos da apresentada neste artigo, lembro que o comentário da mensagem era: “As pessoas ficaram impressionadas de como um cachorro vira-lata podia ser tão leal !”.
Vejamos um pouco mais o conteúdo da foto: um pequeno cão vira-lata, que tinha um amigo (palavra que nós, humanos – hum... – estranharíamos deveras, por vincularmos a um animal) que, por um infortuito cálculo de tempo, fora atropelado mortalmente. Seu amigo, lá estava, em sua incansável tarefa de tentar acordá-lo, afim de que ele levantasse e saísse daquele ponto perigoso. A morte não lhe passava aos olhos naquele momento.
As fotos que se seguiram (quatro ao todo) demonstravam sua insistência em guardear o velho amigo, impedindo até que pessoas chegassem perto para retirar aquele “corpo estendido no chão”; Mas demonstravam, também, o circo humano, testemunhando outras pessoas que, assim como o autor destas fotos, registravam aquela cena.
É evidente que, se eu tratar superficialmente este fato, a primeira coisa que virá em nossas mentes é uma exclamação do tipo “Ah! Mas se fosse um amigo meu atropelado, é claro que eu estaria ali, protegendo o seu ‘corpo estendido’, para que pudesse seguir seu caminho final em paz”, ou coisas deste tipo.
Mas o que chama a atenção da mente e sentimento deste circense é que estamos diante de uma cena infalível de auto-crítica humana. Não consta em meus conhecimentos intelectuais, em meus livros, cd’s, e os poucos (decentes) programa de TV que assisto que, diferente do homem, os animais sabem que, um dia, irão morrer. E é, também, esta a linha de raciocínio que fiquei tratando alguns dias comigo mesmo.
Destas fotos que recebi, com pequenos comentários às lições de amizade que deveríamos tirar, três lições me são claras:
Primeira Lição: de vida, que vai infinitamente mais além da ode humana e que somos inquestionavelmente obrigados a concordar, que, a não ser que seja ‘nosso’ o cão atropelado, não pararíamos para tentar socorrê-lo ou, na certeza de sua morte, recolhê-lo ao seu pacífico descanso final. Um cão (ou outro animal qualquer) atropelado instiga o desvio de nossos olhos “distraídos”.
Segunda Lição: de amizade, uma “pequena-gigante” lição de amizade que, em nosso pequeno e egoísta mundinho capitalista, perpassa de forma significativa por relações de interesse e, por isso mesmo, por relações de poder. O que fazemos e deixamos de fazer por nossos(as) amigos(as)? Quais valores nos desprendemos ou nos fortalecemos para com os(as) nossos(as) amigos(as)?
Terceira Lição (e a mais intrigante): a ode humana ainda passa seguidamente por cima de corpos – simbólica, metafórica ou até concretamente. Passamos por cima de Mendigos e Andarilhos, passamos pos cima de Sem Terras, passamos por cima de crianças e jovens drogados pelas ruas, passamos por cima índios, negros, GLBT’s, pobres, mulheres, imigrantes... pois não são nossos amigos...
A lição que fica para você, qual é?
Venham Todos! Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
PS.: no arcamundo tinha o hábito de solicitar a lembrança de minhas palavras, se elas fossem ser utilizadas por este mundo agora. Mas isso é decisão sua.