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“Há um
menino
Há um
moleque
Morando
sempre no meu coração”
(Milton Nascimento)
O Universal Circo Crítico tem algumas
razões de ser... Entre elas, o Palhaço...
–
Muito grato... Sempre soube que sem euzinho, nosso picadeiro não teria graça
(Strovézio).
–
E não teria muito mais além disso, Strovézio...
Mas,
há tempos me perguntava sobre um camarada que foi também essencial para o Circo
que existe dentro de mim... e que, por incrível que pareça, sobressaiu-se por
meio da Capoeira. É... a capoeira.
–
Essa ninguém sabia...
–
Pois é...
Pois
bom (como diria Pantaleão). Há algumas semanas atrás me deparo com uma publicação de uns 20 anos, dos tempos em que ainda estava na Universidade, em Pernambuco. E,
claro, militante do Movimento Estudantil.
Já
antes, conheci Haroldo Junior, da Universidade Federal da Bahia. Capoêra de
sensibilidade profunda e diria quase inigualável. Me apresentou, numa roda de
capoeira, em Petrolina/PE (mundão pequeno) o palhaço que se escondia dentro de
mim...
Quando
levantamos nossa lona (ainda que furada), quando arrumamos nosso picadeiro (ainda que na terra batida), quando convidamos artistas e grande público, sempre
nos perguntávamos: cadê esse camarada? Cadê meu irmãozinho Haroldo?
E
eis que me deparo com este volume do “O Sedentário” e lá está o Haroldo Junior...
e o Menino levado do João...
Venham
Todos!
Venham
Todas!
Venham
apenas apreciar... hoje, o espetáculo é de outro artista...
“João acordou cedo e logo ao
despertar começou a jogar o travesseio para cima e apará-lo com as mãos. Em
seguida, batia palmas e apanhava. Já estava pronto para aparar o travesseiro
com os pés quando a mão o chamou:
–
Joãozinho, meu filho, vá tomar banho, se arrumar. Olha, o café vai esfriar! Se
você chegar atrasado na escola... uh, ai, ai, ai!
João pegou a toalha, após pular o
cesto de roupa suja, o qual derrubou, e foi para o banheiro saltiando e batendo
palmas, se esbarrando no quadro.
A mãe logo reclamou:
– Menino! Você derrubou a roupa suja
do cesto, seu quarto está uma bagunça e o quadro todo torto, quanto é que você
vai criar juízo?
João terminou seu banho quieto, se
vestiu feito um raio e tomou seu café.
Após o café, João foi para a escola
correndo, pisando apenas nas partes pretas da calçada, fazendo verdadeiras
estripulias para não tocar nas partes brancas. Por isso se esbarrou num senhor
que perguntou com raiva:
– Seu moleque, você está quase um
homem, é preciso andar assim, igual a um macaco de circo? Ande direito, Quantos
anos você tem, ô menino?
João respondeu à medida que corria e
pulava:
– Eu tenho cinco, oreba.
Ao chegar à escola, após saltar
buracos, equilibrar-se em meio-fio, chutar lata etc., subiu para sala
equilibrando-se no corrimão da escada, o que fez com que a coordenadora o
ameaçasse:
– Vou suspendê-lo já, já!
Ah! no recreio João era impossível.
A cada minuto ele inventava uma proeza diferente e ainda virava para a
professora, a coordenadora, a servente e fazia:
– Olha para mim... taá-tá-rá...
(gritava, imitando o som de uma corneta).
As pessoas preocupadas logo
repreendiam:
– Menino maluco!
– Oh, infeliz!
– Peste, sai já daí!
– Você tá doido!
– Você quer quebrar o pescoço, seu trocinho?
É... a vida de Joãozinho não foi
fácil. Não pode se movimentar e experimentar seu próprio corpo que logo vinha
uma repressão. Desta forma, Joãozinho foi ficando medroso, inseguro e hoje
aquele menino que subia escada se equilibrando no corrimão não sobe nem no
banco para trocar lâmpada, tem medo de altura.
– O que aconteceu com o bom João?”
(Haroldo Júnior – Acadêmico do Curso
de Educação Física – UFBa, O Sedentário,
informativo de 1995 da Educação Física baiana)
Há um menino! Há um moleque! Morando sempre no meu coração... E o nome dele é Haroldo Júnior...
Armandinho,por Alexandre Back |