“Travamos nossa luta por responsabilidade contra um ser mascarado. A máscara (...) é inexpressiva, impenetrável, sempre a mesma. (...) Ficamos, com frequencia, intimidados ou amargurados (...). Nós ainda não experimentamos nada”
(Walter Benjamin)
Pinheirinho...
Palavra que em período natalino (talvez por essas e outras que sempre questiono este bendito termo “tempo de...”, já expresso embaixo de nossa lona) irremediavelmente significa Natal, Festa, Compartilhar, Amor ao próximo e por aí vai.
Pinheirinho... palavra mais do que palavra para cerca de 2,5 mil famílias (aproximadamente 9 mil pessoas, entre crianças recém-nascidas e idosos de longa idade) moradoras desde 2004 em área de inquestionável improdutividade social e que representava as vantagens de quem é rico, rouba o estado, e continua rico (Empresa Selecta – publicamente falida – de Naji Nahas – aquele que cumpriu “prisão domiciliar” pelos crimes contra economia, do colarinho branco e formação de quadrilha... Domiciliar...).
Uma comunidade formada a anos, que se organiza justamente pela ausência do Estado (que em São Paulo é ausente mesmo, por opção herdada dos tempos de FHC, em que o Estado presente é o policial), pela ausência de políticas públicas que aliem habitação, educação, saúde, lazer, saneamento etc.
Pinheirinho, assim como BBB12, esteve nos noticiários ao bel prazer da imprensa tupiniquim, que edita aquilo que lhe serve e, quando “vasa” o que não servia, dão destaque ingênuo, superficial, com notinhas de 2 segundos em que a frase “o governo irá averiguar e punir aqueles que cometeram excessos”. Quanta conversa fiada...
O que aconteceu em Pinheirinho já aconteceu recentemente e, talvez, já nos tenha escapado da memória, essa que cada vez se perde mais: protesto de estudantes em Recife, reprimida violentamente; protesto de estudantes em Teresina/PI, reprimida violentamente; manifestação de estudantes em São Paulo (USP) reprimida violentamente; protesto de professores na Assembléia Legislativa Cearense, reprimida violentamente... E na história mais ou menos recente, o campo, seus trabalhadores campesinos – lutadores do povo – reprimidos constantemente pela ausência do Estado (os jagunços, os “agro-investidores” – que conhecíamos como latifundiários – os matadores de aluguel) e pela presença do Estado (a Polícia Militar do Estado e Guarda Municipal de São José dos Campos, em sua maioria). Crianças correndo de gás de pimenta? “Corram para dentro de casa” gritariam os seus pais. Mas, dentro de casa, a polícia entrava e as expulsavam de lá. De que adiantaria gritar “Tem criança aqui!”? Diria o Estado: “eles (os pais) são os covardes, pois colocam seus filhos na frente!”... Aff...!

O resultado foi uma expressão do Haiti (só que sem terremoto e malária) em um bairro da região sul de São José dos Campos: famílias inteiras entregues à perda, por resistirem à ela. Nem carnê, nem segunda mão; nem roupas, nem brinquedos das crianças (que também não tem Anjo da Guarda... eles não existem para a miséria); largadas em ginásios, igrejas que – não há como negar – nunca foram pensadas para essas situações e, portanto, não tem estrutura e higiene para abrigar famílias inteiras... 1,5 famílias. Diferente (e muito, antagonicamente) do BBB12, estão também confinados.
Com todas as peculiaridades que sempre rodeiam esta tragédia do Estado defender o Privado (mesmo que falido) do seu povo, nada como uma “reintegração legal de posse de área ocupada” acontecer em um domingo... às seis da manhã. Não, isso não apareceu no Domingo Legal, no Domingão do Faustão, no Melhor do Brasil e esses lixos todos que passam nos lares brasileiros. E também os “heróis do BBB” (segundo o intelectual-jornalista-escritor Bial) não souberam de nada. Estão confinados.
Não há palavras suficientes para expressar a indignação, daqui das bandas no Norte, ao que acompanhamos (superando o tradicional silêncio da mídia tupiniquim) em Pinheirinho... não apenas na ocupação, mas fora dela também. A indignação ao que acontece em inúmera regiões do país e do mundo, em que pessoas são expulsas de seu lugar para que o capital vingue-se da existência da miséria humana.
Talvez por Contestado... Talvez por Carajás... Talvez por Pinheirinho a esperança se faz necessária... absolutamente necessária... vitalmente necessária...
Vida Longa a Pinheirinho!
Venham Todos!
Venham Todas!... mas venham mesmo...
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
Obs.: Fotos, imagens, reportagens, documentários (de fato tão recente) não faltam. As imagens e vídeos aqui colocados estão públicos na internet. Sou apenas mais um...