Aqui é o local onde o picadeiro tem realidade e fantasia. Os artistas são personagens e pessoas reais. A música perpassa nossa história e nosso povo. É onde sempre nos encontramos... Vida Longa!
RESPEITÁVEL PÚBLICO!
domingo, 8 de novembro de 2009
Conversas ao pé de ouvido de Rudá...
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
Silêncio...

“Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas fico calado,
faz de conta que sou mudo”
Meu País
(Orlando Tejo / Gilvan Chaves / Livardo Alves)
Silêncio... “estado de quem se cala / privação de falar / taciturnidade (arte de falar pouco)”, segundo o Aurélio... Assim passou o Universal Circo Crítico nas últimas semanas.
Não foi falta de assunto, como diria Oswaldo Montenegro em “Mudar Dói!” (mas não mudar dói muito). Foi apenas silêncio. Penso que, de um jeito ou de outro, mais ou menos (tempo absolutamente relativo em se tratando de silêncio), sozinho ou não, todos tem seus momentos de silêncio. Tive o meu.
Mas, ainda assim, e inspirado na voz de Zé Ramalho, na real, concreta e bela “Meu País”, meu silêncio, e consequentemente o silêncio do Universal Circo Crítico foi apenas de palavras ditas. Mas, sempre vendo tudo, fazendo de conta que somos mudos... mas. também somos mundo.
O silêncio recebeu Mariana no último dia 13 de outubro, a pequena já lutadora do povo, sobrinha de nosso grande Bruno (Brunão), nosso capoeirista humanizador e também lutador do povo que hoje se encontra lá pelas bandas de SC. Nossa pequena Mariana chegou entre nós com muita luta e assim seguirá sua vida, cercada de pessoas que a amam.
Nasceu também Rudá, mais um filho de lutadores do povo (Janine e Antônio) e que chegou com a melhor expressão daquilo que os une, pais e filho: a luta com amor! Em 03 de outubro, chegou Rudá, deus do Amor! Aliás, que dia especial para chegar o pequeno Rudá, vocês nem imaginam...
O silêncio também desvendou a ciência, a docência, a pesquisa... Ah! desvendou também seus olhares. Diferentes, divergentes, antagônicos olhares. E nós continuamos a defender que nem a ciência, nem a docência, nem a pesquisa e todas as ações e reações correlatas, direta ou indiretamente, não neutras. Ainda que digam que sejam neutros pesquisando, nunca o serão. E, ainda que não na sua superação de fronteiras, desvendou-se a ciência (e falo, neste momento, da Universidade Pública e das Entidades Científicas da Educação Física, onde circulo), comprometida com a manutenção do estado da arte de produtores (homens e mulheres) e seus produtos (resultado de seu trabalho) e continuaremos, infelizmente, testemunhando aqueles que formarão homens e mulheres para a subserviência. Eu não farei parte deste grupo.
O silêncio também angustiou. A América Latina, nossos “hermanos” continuam a nos dar lições de democracia e respeito à sua história. Bolívia, Argentina, Paraguai e, mais recentemente, o Uruguai vem abrindo seus podres porões da ditadura, os financiamentos dos EUA (e ainda mantém a Escola de Formação Militar que baseou a formação dos ditadores latinos), a prisão e condenação dos assassinos e torturadores. Nada disso mexeu um centímetro, uma grama, um mililitro sequer da paz e serenidade de seus estados, e o Estado Brasileiro continua guardando os cofres da ditadura a sete chaves. Na única (pseudo)demonstração de ir à fundo das atrocidades daqueles anos de chumbo (a busca de covas no Araguaia), é justamente as Forças Armadas que estão à frente. A soberania do povo brasileiro se fortaleceria imensuravelmente a partir do momento em que ela dominasse sua história... presente, passada e futura.
O silêncio me fez, mais uma vez, enojar diante de nossa mídia e de nosso jornalismo. Por que 7 mil pés de laranja, se foram 3 mil pés...? E eu não disse “só” 3 mil pés. Mas, porque aumentar? Aliás, 0,25% do total de pés de laranja da Cutrale. E por que assentir à farsa dos equipamentos danificados, se foram todos retirados da oficina da própria Cutrale e espalhados pelo pátio para dar a dimensão de dano provocado pelos Sem Terra? O tal do jeitinho brasileiro para recuperar a oficina, repleta de sucata, ás custas dos Movimentos Sociais ou, em última instância, do Estado? Por que não explicar, na notícia, o que significa 1,2 milhões de pés de laranja? Como assim “produtivo”, se é produção para exportação, apenas? Esse silêncio midiático não é justo, não é honesto e não é ético... Mas um Estado que permite que apenas seis grupos controlam toda a comunicação de um país, nada mais respondido.
Durante meu silêncio, minhas pequenas potiguares primas atletas ganharam medalhas. Illaninha pegou um bronze em Ginástica de Solo em Recife e Dinahzinha ganhou ouro e prata nos Estados Unidos (um tal de “Disney Martial Arts Festival” – nome repleto de contradições), em uma competição de Kung Fu. E, claro, as reflexões referentes a Rio 2016 (Olimpíadas ou Jogos Olímpicos?), que já fazem parte de minhas reflexões científicas, acadêmicas, docentes e políticas, passaram a compor as minhas reflexões familiares.
Durante o silêncio, prevaleceu o preceito de Orlando Tejo, Gilvan Chaves e Livardo Alves, em “meu país” que só uma voz de um cabra como Zé Ramalho pra gravá-la e publicizá-la, em detrimento do lixo artístico-musical que constantemente é lançado em nossos ouvidos.
“Um país que perdeu a identidade / Sepultou o idioma português / Aprendeu a falar pornofonês / Aderindo a global vulgaridade / Um país que não tem capacidade /
De saber o que pensa e o que diz / E não pode esconder a cicatriz / De um povo de bem, que vive mal / Pode ser o país do carnaval / Mas não é com certeza o meu país (...) Um país que dizima sua flora / Festejando o avanço do deserto / Pois não salva o riacho descoberto / Que no leito precário estertora / Um país que cantou e hoje chora /
Pelo bico do último concriz / Que florestas destrói pela raiz / E o grileiro de porre entrega o chão / Pode ser que ainda seja uma nação / Mas não é com certeza o meu país”
Tô vendo tudo...
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira