“Porque o medo da mulher
da
violência do homem
é o
espelho do medo do homem
da
mulher sem medo”
(Eduardo
Galeano)
Em um 8
de março passado, dizíamos, aqui neste picadeiro de terra batida e lona furada:
“As mulheres do Universal Circo Crítico
sempre serão razão de nossa existência”. Falava, à época, das mulheres de
minha vida.
Houve
momentos outros em que trouxemos o saudoso Eduardo Galeano (que novamente nos
saúda) e uma de suas obras singelamente denominada “Mulheres”.
Em março
último, também no dia 8 mais especificamente, escrevemos: “Ainda um machista”. E não se
tratava de falsa humildade, mas sim, de dizermos com a verdade que todos os
dias provoca nossas mais escondidas entranhas machistas dentro de nós: “eu sei
que você está aí dentro e vou enfrenta-lo... até o dia que a certeza desta
vitória esteja clara e inconteste”...
Meu
machismo está lá dentro de mim, escondido e junto com o racismo, a homofobia, a
intolerância, o preconceito... Eu sei que está.
Todos os
dias, o silêncio de meus ouvidos me provoca: a violência contra a mulher
(tantas, inclusive, menores de idade) é todos os dias, várias vezes ao dia.
O fato
de eu não ver a cada 4 minutos de minha vida uma violência sexual, física,
psicológica ou o escambal acontecendo contra uma mulher, não quer dizer que “não
existem”.
Uma
mulher a cada 4 minutos????
Igualmente,
o fato de muitos colocarem em cheque o termo “Cultura do Estupro”, não nos dá também
muitas condições de dizer que ela não existe.
Não
existe????
A cada 4
minutos uma violência contra uma mulher no Brasil... É claro que isso já é
cultural. E quem disse que não existe cultura ruim? A história da humanidade
nos dá incontáveis provas disso.
E nestes
dias, os quais das coisas que mais se falaram, noticiaram, lemos, procuramos
mais notícias... Nestes dias em que muitos (e “muita mais muitas”) foram as
ruas dizer “Machistas, não passarão!” e outras palavras de ordem... Nestes dias
em que até a estupidez midiática comercial que transforma cada segundo dos
últimos dias de uma adolescente no Rio de Janeiro (mas não de cada uma das
mulheres “a dada 4 minutos”) em um bom negócio e matéria exclusiva... pensei em
todas as manifestações da idiotice se expressar.
Elas, a
cada 4 minutos, são as culpadas.
“Se
estivesse em casa...”, “Se usasse roupas adequadas...”, “Se tivesse valores
morais...”, “Se estivesse na Igreja... na escola... trabalhando...”
De 4 em
4 minutos... elas estão exatamente lá...
Em
ônibus, em metrô, na rua, na escola ou na Universidade, na igreja (é, meus
“caros”, na igreja), no local de trabalho, no elevador, na praia, no parque e
uma dúzia infinita de lugares aqui e alhures... Todos os dias e nossos ouvidos
em silêncio.
No
Seriado da Globo, no comercial de perfume e cerveja, no STF de gilmar mendes e
seu Habbeas a abdelmassih... Nas piadas aplaudidas de rafinhas e danilos...
Por que
nossos ouvidos ficam em silêncio?
33...
Precisamos
de 33 homens para percebermos o silêncio de nossos ouvidos...?
Curiosamente
(sim, arriscaremos a ousadia), foram 33 homens. Que curioso número cristão.
E quando
olhamos ao redor, estamos cercados de outros representativos 33 homens...
Eles
estão recebidos no Ministério da Educação, em tempos obscuros de governo
interino... Já não bastava a perda de direitos? Teremos 33 homens também bem
representados?
Bem
representados em nossas Casas Legislativas, do mais miudinho município até a
Câmara Federal. Eram 33 homens representados pelo o PL 5069 que obstaculariza
qualquer ato desta moça, menor de idade, de evitar engravidar... dos 33, bem
representados pelo que há de pior de nossa classe política, tão bem sintetizada
pelo B... de boi, de bala e de bíblia.
“Ah!”, dirão
os incautos defensores da moral, “mas o
PL apenas indica a necessidade de se fazer o B.O. como condição legal.”...
Aquela
jovem no Rio fez... quase uma semana depois. E o Delegado que a ouviu ainda
perguntou a ela se ela tinha o hábito de participar de orgias sexuais.
E o
silêncio ensurdecedor de meus ouvidos...
Que bom
que somos oriundos do mundo Universitário, onde sempre estaremos cercados de
pessoas (jovens e docentes) esclarecidas e imputadas da melhor moral e respeito
aos valores humanos.
Um
espaço em que as festas para receber novos/as alunos/as (os/as calouros/as)
sempre serão realizadas na mais absoluta respeitabilidade e carinho:
“Sejam bem vindos!
Sejam
bem vindas!
Nós
pagamos a bebida e a música...
Aqui,
entre nós, veteranos, vocês receberão apenas carinho... muito carinho!
E se
alguém, por algum acaso, passar dos limites, não os perdoaremos. Não admitimos
excesso de ninguém... A não ser excesso de carinho.
Mas não
passem, vocês, calouras, do limite, ok? Senão, serão as culpadas pelo que
acontecer”.
E assim
foi culpada, na UFRRJ, a estudante Izadora Cézar... uma não mais aluna de
Educação Física, uma não mais futura professora que não aguentou a dor e a
pressão de uma Universidade silenciosa... por três anos.
E o
silêncio ensurdecedor alcança as Instituições mais respeitadas...
E uma a
menos para ensinar nossas crianças e jovens qual a linha de fronteira entre a mera
admiração e a violência. Frágil fronteira.
Cultura
do estupro?
Bando de
esquerdistas e feminazis que não sabem o que é amor... não sabem o que é o recato,
a beleza e o lar.
Não
sabia, também, Araceli... 8 anos... Espírito Santo... 1973... Em um 18 de maio.
Quase que a jovem carioca vira “celebração a Araceli”, pelo caminho da
violência.
Os
estupradores e assassinos? Paulo Constanteen Helal e Dante Michelini, de
famílias influentes ligadas ao Governo Militar. Um ganhou honrarias na Assembleia
Legislativa capixaba. Outro, virou nome de Avenida. Não é rua, não é praça, não
é “largo”, não é “retorno”... É avenida.
A cada 4
minutos, uma mulher...
Este picadeiro
de terra batida e lona furada de circo passou quatro dias tentando dizer alguma
coisa. Nunca nos foi tão difícil dizer alguma coisa.
E nestes
quatro dias, 1.440 mulheres foram violentadas...
Não
violentei nenhuma delas... Mas meu silêncio se reproduz a cada 4 minutos.
E não
sabemos sequer como lhes pedir desculpas pelo machista que está escondido
dentro da gente...
Hoje,
Strovézio preferiu o silêncio... principalmente de sua porção Mulher!
Venham
Todos!
Venham
Todas!