RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 30 de outubro de 2011

O Universal Circo Crítico Esporte Popular... Da arquibancada...


“Futebol é uma alegria que dói”
(Eduardo Galeano)

            Lá pelas bandas de 1998, às vésperas da Copa do Mundo da França e, também, das eleições presidenciais e de governos estaduais (que, à época, ainda manteve a população brasileira sedada pela política neoliberal de FHC), escrevia um texto que foi presenteado ao Movimento Estudantil de Educação Física que, também, estava às vésperas de mais um Encontro Nacional de Estudantes, que ocorria em Brasília.
            Do ponto de vista de idéias gerais, um ano de derrotas: o Brasil perdia a Copa para a França (nem dei muita bola), FHC se reelegia no primeiro turno (e tempos sombrios se avizinhavam), e a Lei 9696/98 (que regulamentava a Educação Física e pela qual lutamos, incansavelmente, contra) fora aprovada.
            Mas, ainda assim, num “verso” permanente “É ano de Copa! É ano de eleição!”, ia discorrendo sobre as idas e vindas que a Copa e as Eleições, no mesmo ano (e assim se seguirá até que o Brasil não vá mais a uma Copa –isso pode acontecer, olha a Venezuela evoluindo no futebol – ou um novo Golpe de Estado acabe com as eleições... ou os dois), conduziam o imaginário e o destino de uma nação e seu povo.
            Mas, estamos nos aproximando de um contexto bastante adverso e, há tempos, nossos artistas, parte de nosso público, já vinha perguntando: “E aí? Quando teremos uma pelada no intervalo dos espetáculos do Universal Circo Crítico?”... já era hora.
            Da arquibancada é uma expressão que traduz, para nós, uma posição particular, mas que reflete o estado da arte de nosso povo em relação à suas práticas corporais: assistimos (e pagamos, algumas vezes, bem caro) a estranhos espetáculos esportivos, não apenas do futebol; da arquibancada, assistimos a uma série de movimentos que, cada vez mais, institucionalizam a violência em nome do esporte, do símbolo, do ídolo; aliás, da arquibancada, assistimos (algumas vezes, incrédulos) a uma infinidade de atrocidades, barbaridades (barbárie?) profundas ditas pelos heróis esportivos de nossa nação, algumas vezes seguidas de choros maquiados e bem orientados de humildade e arrependimento; da arquibancada – e apenas dela – nos manifestamos independente do que as grandes marcas, a grande mídia esportiva e os dirigentes esportivos querem que saibamos.
            Da arquibancada, existem manifestações muito (em número e qualidade) diferentes dos “filma nóis!” que sempre testemunhamos nas transmissões ao vivo.
            É da arquibancada que nossos artistas e estimável público se manifestará, pois a arquibancada ainda consegue ser, em que pese as forças expressas por sinais de intolerância e violência explicitada em defesa de símbolos privados (os clubes que torcemos), um lugar e um tempo de democracia e liberdade (verdadeira) de expressão. Algumas vezes até poderão arrancar os nossos cartazes de “todo mundo sabe, até o reino mineral, que a FIFA rouba! E não tenho que provar nada...”, independente de filmarem (e não vão filmar).
            Da arquibancada, nós passaremos a nos expressar vez por outra: dos trabalhadores que, hora aqui, hora ali, entram em greve por melhores condições de trabalho e salário, nas praças e estádios esportivos em construção para a Copa e os Jogos Olímpicos.
            Da arquibancada, denunciaremos a violência que a Mídia Esportiva conduz na construção dos heróis sem missão e heroínas sem humildes para defender (e, muitas vezes, são, os “heróis e heroínas” vítimas também).
            Da arquibancada, viajaremos sobre os guetos que, assim como na África do Sul, são construídos para afastar a população pobre não apenas das modernas praças esportivas, mas de seu caminho, como vem acontecendo principalmente no Rio de Janeiro, em que comunidades inteiras recebem ordens de despejo para o dia anterior, pois por cima de suas casas (de 10, 20, 30 anos) passará uma via de acesso.
            Da arquibancada, falaremos dos demais projetos faraônicos que existem, transformando um esporte alienador e fortalecer de fronteiras sociais em “projetos sociais”, como está surgindo aqui, onde nosso Circo tem sua lona armada, na Universidade Federal do Pará, com algo que vem sendo divulgado como “o maior evento esportivo promovido por uma única universidade no território brasileiro” (fala de um “coordenador”, publicada no site de notícias da UFPA, mas que não encontramos mais... meio estranho isso).
            Pano p’ra lona tem... já estávamos em débito com este compromisso.
           
Venham Todos!
            Venham Todas!
           
Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.: PAra quem não conhece, o Livro de Eduardo Galeano, "Futebol ao sol e à sombra" é uma obra magnífica, para amantes e pesquisadores do tema Futebol...!

sábado, 22 de outubro de 2011

O Universal Circo Crítico... Dilemas da Educação...


“(...) Uma das nossas brigas na História (...) é exatamente esta:
fazer tudo o que possamos em favor da eticidade,
sem cair no moralismo hipócrita,
ao gosto reconhecidamente farisaico”
(Paulo Freire – Pedagogia da Autonomia)


            Nestes tempos últimos, andando pelos corredores da Universidade onde trabalho, me chamou a atenção a quantidade de cartazes pregados nas paredes, alguns inclusive dentro de salas de aula.
            Minha primeira reação, incômoda, foi a de que cada vez mais não nos importamos com o que é ou deixa de ser “sujar”... Cartazes, informativos, avisos são sempre úteis, para um ou para outro. Um Congresso aqui, um grupo de estudos e/ou orações ali, uma atividade no Campus puxado por uma das Faculdades que ali estão, divulgação de edital, seleção para bolsa... Sim, sujamos mas são informações (com pesos diferentes a cada olhar) aparentemente importantes. E talvez por isso não nos importamos tanto com a sujeira.
            Chamava a minha atenção, também, que eles eram colocados à revelia. Seus interessados primeiros (quem promove o evento, quem organiza o grupo) pacientemente vão colocando seus cartazes em lugares – à eles – estratégicos, no sentido de fazer chegar ao maior número possível de pessoas a informação que desejo passar, comunicar... vender.
            Mas, um daqueles cartazes se destacou e, claro, foi alvo de algumas conversas de corredor e, mais pontualmente, de uma manifestação minha institucional. Mas isso (a manifestação) importa menos aqui.
            Falo de um Congresso: Congresso Nacional de Aprendizagem, vulgo CONAP. Um Congresso, no âmbito da Universidade, sempre nos leva a compreendê-lo como um evento que irá aglutinar pesquisadores, professores, intelectuais (distantes ou próximos da realidade e prática social) e, ao mesmo tempo, apresentar este universo de “Congresso” a estudantes universitários, alunos em fase de iniciação de pesquisa etc. Aconteceu entre os últimos dias 14 a 16 de outubro, coincidentemente, no feriado do dia do Professor.
            Falo de um Congresso Brasileiro e, como tal, que nos permite imaginar a presença de pessoas – com o perfil acima – de todo o Brasil, de pessoas que, talvez, conheçamos apenas por livros.
            Falo de um Congresso Brasileiro de Aprendizagem, um tema que a história da humanidade sempre registrou, desde o pensamento mais positivista e “comportamentalista” até o mais revolucionário, com compromisso social e popular. Portanto, um tema importante para a humanidade.
            Discutir a aprendizagem (um universo significativamente grande) em nível nacional em um congresso. Isso acontecendo na região nordeste do Norte brasileiro. Ao “pé” do Cartaz, uma importante informação: “O Maior Congresso Universitário do Norte do País”.
            Sim... isso vale a pena divulgar, em que pese as reflexões sobre a possível poluição nas paredes (inclusive de sala de aula) de uma Universidade Pública.
            Se não fosse por alguns detalhes...:
Inicialmente, falando do cartaz, algumas informações são um tanto quanto “relevanteadas” (ou seja, tornadas mais relevantes que outras). Um exemplo são as atrações nacionais (sim, é importante divulgar a parte cultural de um evento desta magnitude): Mulher Melância (assim mesmo, com acento circunflexo) e Bonde do Tigrão são as principais atrações e divulgadas com espaços significativos no cartaz.
Por outro lado, logo abaixo (no cartaz) a programação de “palestrantes” (é nisso que se ocupa o Congresso... palestras). Até conseguimos ler os nomes dos palestrantes mas, para saber qual tema irão abordar, temos que nos aproximar do cartaz... Não apenas eu, no alto dos meus 42 anos (e usando óculos), mas também todos os que eu perguntava, com o cartaz na mão, “qual é o primeiro tema de palestra?”.
Desta programação destaco o empresário, arquiteto e urbanista (fonte Times New Roman 0,5) Herlon Oliveira, que versará sobre “A Tecnologia a Serviço da Construção Civil e da... Preservação do Patrimônio Histórico”... bem abaixo das atrações acima citadas.
Pode ser que eu esteja ficando velho, mais conservador do que revolucionário (aprendiz de lutador do povo é assim, precisa compreender e enfrentar suas incoerências e contradições). Mas segui compreendendo o cartaz.
As fotos? Além, claro, das atrações culturais (sic!) e dos rostos dos palestrantes (cada um no seu devido tamanho e... perfil), fotos o Hotel (de lado, do alto), foto “da galera” (talvez do CONAP anterior) e das inúmeras outras paisagens locais. E outra informação importante: “Certificado de 30 h e Muito mais...” Muito com “M” maiúsculo...
Não satisfeito, vou ao site do evento (tenho que divulgar...): www.portalconap.com.br. Logo de cara, a festa do Bonde do Tigrão: CONAP FANTASY, na qual “o uso de fantasia é obrigatório”. Para além do óbvio que poderíamos aqui apresentar (as fotos, a programação cultural – valei-me! – os links de interatividade etc.), uma enquete:
“Qual será seu estado civil no CONAP?” e as caracterizações: solteiro – sinal verde; enrolado – sinal amarelo; casado – sinal vermelho. Claro, resolvi votar. Bom, até o momento, casado que sou, pelo menos não sou minoria. Mas, quase ¾ dos votantes já anunciam: o sinal está verde.
Bom...
A sujeira dos cartazes diminuiu um pouco na Universidade. Mas eu ainda fiquei pensando sobre a minha atitude de retirar todos os cartazes que encontrei do CONAP e o prefácio de Paulo Freire que colocamos neste artigo.
O Universal Circo Crítico não é, absolutamente, contra a liberdade de expressão, de organização, de pensamento científico e coisa e tal. Entendemos que temos projetos de homem/mulher, sociedade, mundo e Circo antagônicos deste CONAP. Mas, mais do que isso (e, talvez, por isso mesmo) estamos em trincheiras opostas.
Um congresso assim não pode se alcunhar de “Aprendizagem” e, muito menos de “Congresso Universitário”... Pode ser o “maior outra coisa”...
Mas, precisávamos dividir isso aqui, neste picadeiro...
Fica nossa palavra de ordem: Por uma Educação (que envolve aprendizagem) Popular, Nacional, Unitária e Revolucionária!
Viva (ainda que não exista... ainda) O Congresso Brasileiro dos Lutadores do Povo, a qual este picadeiro será sempre signatário.

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

domingo, 9 de outubro de 2011

Hasta la vitória siempre...!


            



Ernesto Guevara...
Comandante Che Guevara... 
Che!





                Nossos jovens universitários, em tempos atuais, não o conhecem... é verdade, me espanto, pois são jovens no alto de seus 18, 19, 20 anos que se (me) perguntam: “quem é Che?”
                Mas, não são todos... jovens do campo, dos movimentos sociais campesinos, conhecem Che, sabem de sua história e até o sentido de palavras de ordem que resgatam sua memória e lições: “Che! Zumbi! Antônio Conselheiro! Na Luta por Justiça! Nós somos Companheiros!”.
                Em tempos de fortalecimento da Revolução Cubana, quando era Ministro da Indústria, Che não tinha uma vida social e/ou cultural muito intensa. Mas, quando procurava um cinema com sua companheira Aleida, enfrentava um pequeno problema: os encarregados do guichê não queriam cobrar-lhe o ingresso. Ao que Che respondia: “Mas, rapaz, se isso aqui não é seu, mas do povo, por que não quer cobrar o meu ingresso?”.
                Lições como esta, pequena, deveria ser princípio moral e ético de nossos líderes...
Em 8 de outubro de 1967, erneste Che Guevara era capturado e, no dia seguinte, tombava em La Higuera (Bolívia)... de olhos abertos, olhando para seus algozes e dizendo: “morreu o homem! Eternizou-se a Idéia! Demos mais força à luta por liberdade!”.
O Universal Circo Crítico sempre seguirá os passos de Che!
E que nossos jovens compreendam o real significado de palavras como Liberdade, Justiça, Liderança e Esperança!
Vida Longa ao Comandante Che!


Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

P.S.: Nossa homenagem a uma grande lutadora do povo, da educação e da educação física que tem, em 08 de outubro, a data de celebrarmos sua chegada. Feliz Dia de Che, Professora Celi Taffarel!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Conversa ao pé de ouvido de Gabriel...


Salve, salve, pequeno Gabriel.
            Nosso mais novo pequeno lutador do povo, filho dos jovens Carla e Igor, que este Circo, seus artistas, seu público, conheceu nas andanças do Assentamento João Batista, aqui mesmo em Castanhal.
            Não é a primeira vez que saudamos um Gabriel... Mas cada Gabriel é um Gabriel. Tivemos até o Pedro Gabriel, que chegou ali, na curva da virada de 2010 para 2011. E, como tu, também um pequeno lutador do povo.
            Todo mundo sabe que Gabriel lembra aquele camaradinha (ninguém sabe se lourinho, branquinho de olhos azuis ou o contrário, mas que chamam de anjo) que avisou Maria, mãe de Jesus, que ia ser mãe... E todo professor sabe que o Gabriel da sala é sempre um dos mais espoletas... Como professor, nada contra, desde que sempre tenhamos as espoletagens a disposição do trabalho coletivo e da construção de novos conhecimentos. Isso, nós aprendemos a fazer todos os dias.
            Mas, veja só, né Pequeno Grande Gabriel... chegaste em 11 de setembro, uma data que, há 10 anos, silenciou toda a história da humanidade, como se só existisse um único fato em 11 de setembro. E, para um bom pequeno lutador do povo que és, nos destes um grande, enorme desafio. Saudá-lo no que há de mais expressivo e importante para a sua chegada. E, talvez, seja uma das saudações mais importantes de todas as conversas ao pé de ouvido que já tivemos até hoje. Não que as anteriores não tenham sido, cada qual à sua maneira, importantes. Mas este 11 de setembro de 2011 é, verdadeiramente, um desafio... Esperamos, artistas e sempre aprendizes, dar conta dele.
            Na história da humanidade, mas em função de interesses que estão “acima” de nós, e que enfrentamos todos, absolutamente todos os dias, há um 11 de setembro recente, que, é fato, comoveu-nos, mas se transformou, dia após dia, em um segundo 1º de abril – o tal dia da mentira.
            Um chanceler americano, lá pela década de 30, dizia sobre o que é a verdade e o que é a mentira: A verdade, é aquilo que você quer que as pessoas acreditem. Se você sabe que se trata de uma mentira, mas que não pode ser revelada como tal, conte-a, como se fosse verdade, o tempo todo, ao ponto de até você acreditar que é uma verdade.
            Assim fizeram com os chamados “atentados às Torres Gêmeas de Nova York”. Fizeram o mundo inteiro acreditar que foi Osama Bin Laden o terrorista idealizador destes atentados, que os dois aviões foram seqüestrados, que o passaporte do terrorista suicida caiu nas ruas de N. York e que os prédios ruíram por causa dos aviões... em menos de meia hora após o impacto, verticalmente... Estas e muitas outras mentiras sobre este “atentado” (sempre entre aspas) perduram a dez anos.
            O terrorismo deste fato não foi menor, por exemplo, do que a edição do Ato Institucional número 5 (AI-5) de 1969, editado pelo governo militar (terrorista) brasileiro, responsável pela “legalização” das prisões, torturas e mortes inicadas em 1964 e que seguiram até o os anos 1980.
            Nem o primeiro, nem o segundo foram realizados por heróis. Os dois foram construídos pelo próprio Estado/Governo de seus povos. Os EUA, na insana busca pela legitimação mundial á sua política bélica (idêntica a aquela que orientou a CIA nos anos de chumbo da América Latina, a partir dos anos 60 do século passado). O Governo Militar brasileiro (que, lamentavelmente, renasce nas expressões mais vis de nossa sociedade, hoje, como a imprensa), na tentativa de proteger, na marra, os ideais de quintal do imperialismo americano. Em ambos, os heróis são os que questionaram suas verdades, mentiras tantas vezes repetidas.
            Optamos, apesar das já muitas palavras até aqui, pequeno Gabriel, lembrar de um grande líder, um personagem da história Latino-americana que conseguiu colocar o 11 de setembro duas vezes, em uma única manifestação, na história da humanidade.
            Em 11 de setembro de 1973, o Palácio de La Moneda – sede do Governo Chileno – foi duramente bombardeada por um Golpe Militar, dirigido pelo general e depois ditador Augusto Pinochet e, em 11 de setembro deste mesmo 1973, o Presidente do Chile, democraticamente eleito e sustentado por seu povo, Salvador Allende, era assassinado neste bombardeio. Um presidente assassinado dentro do Palácio do Governo, em seu próprio país.
            Durante o governo de Pinochet, cerca de 30 pessoas foram presas, torturadas e assassinadas... algumas nem nesta ordem, necessariamente. Outros destes, dopados e lançados por aviões e helicópteros no Oceano Pacífico. Dopados, para que morressem afogados.
            Seu povo não apenas resistiu, lutou bravamente, mas deu-nos, assim como outros países latinos (a despeito do Brasil sequer conseguir aprovar um Programa de Direitos Humanos e andar as turras para construir uma “Comissão da Verdade”) uma lição histórica. Prenderam e condenaram seus torturadores e não tiveram sua democracia ameaçada.
            Diferente de tantas conversas que nossos artistas tem com os pequenos lutadores do povo que recebemos, assim como você, neste dia, apenas uma lição parece bastar: o dia 11 de setembro é o dia da verdade, Pequeno Gabriel. E a verdade é revolucionária... assim como você.
            Vida Longa ao Pequeno Gabriel!

            Venham Todos!
            Venham Todas!

            Vida Longa!