RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Conversa ao pé de ouvido de Vitória Cristina...




“E as crianças,
podendo ser,
crescem"
(José Saramago – Levantado do Chão)

            Salve, salve, Pequena-Grande Vitória Cristina...
            Seja muitíssimo bem vinda.
           Chegaste com nome de vencedora e em dia de históricas expressões do trabalho, afinal é dia do Artesão, dia do Marceneiro e dia do Carpinteiro. Nada mais peculiar.
            Aliás, até a Lua veio celebrar sua chegada, hein? Dizem por aí que "o mundo poderá ver a Lua mais de perto". Que nada, Ela, a Lua, é que "andou" quase quatro mil quilômetros só p'ra te ver e saudar, assim, "de pertinho"... Coisas do Universo, Pequena Vitória.
         Ter nome de Vitória que sempre nos remete a história de antes mesmo de chegares entre nós, já é algo significativo, belo e, por que não dizer, universal. Mais ainda, chegastes neste VER A DATA com a celebração da construção, da arte, da expressão daquilo que a humanidade tem de mais rico em sua história: o trabalho que transforma a natureza.
       Também chegaste em Dia de São José, padroeiro de muitas cidades, notadamente aquelas que em sua história, organização social e econômica, sempre tiveram o perfil da agricultura, do campo, do sujeito campesino como característica principal. Isso quer dizer, pequena Vitória, que continuamos pensando na relação do homem com a natureza e sua capacidade de transformá-la para gerar vida.
            Portanto, chegas com a luz de transformadora e de conquistas. A história, as pessoas a sua volta, os ensinamentos de tua vida lhe dirão em pró de que e de quem serás vitoriosa e transformadora. E, como sempre nossos artistas, nossa lona e nosso público ousa, trazemos aqui nossa primeira lição: que suas vitórias e sua ação transformadora seja para o mundo, para os lutadores e lutadoras do povo, para os pobres, as crianças, a juventude, os/as trabalhadores, os idosos... Vitórias e transformações coletivas.
        Como sempre, Pequena Vitória, buscamos na história da humanidade os fatos, os acontecimentos que, aos olhos do Universal Circo Crítico, são importantes para nossa vida e, no seu dia, o 19 de março.
            Além de teres chegado no Dia de São José, chegaste no dia em que foi fundada, em 1549, a primeira capital do Brasil (nos idos tempos de Colônia): Salvador. Não é massa? Menos pela história do tempo que era Capital num tempo de Colônia, mas pelo nosso carinho pelo povo baiano, bravo lutador do Nordeste brasileiro! És, talvez, uma cidadã nascida soteropolitana, mesmo não tendo nascido na capital baiana. Mas, quem sabe um dia destes, de seu aniversário, não irás celebrar lá em Salvador, hein? Que tal? A cidade inteira festejando o seu dia... Saravá!
            A data de sua chegada é também o dia em que os Estados Unidos (sempre tem alguma coisa do imperialismo, aff) inaugura suas missões de combate aéreo mundo afora. Sua primeira vítima no exterior, uma espécie de Bin Laden mexicano... mas Pancho não era terrorista. Foi, junto com Emiliano Zapata, um combatente das ditaduras de seu país e que sempre tiveram o vizinho imperialista como parceiro. Tombou em uma emboscada, mas seus idéias e luta não. E, aqui, mais uma pequena e importante lição que, por vontade de nossos artistas e público, sempre defendemos em conversas assim: nunca abra mão de seus princípios e valores. São eles que a conduzirão por sua vida afora.
            Foi em tempos de ditadura militar, ainda a se estabelecer, que a história de nosso país conheceu a Revolta dos Sargentos. Nós nem imaginamos como é isso, mas antes do Golpe Militar de 31 de março de 1964, cabos, sargentos e suboficiais da Força Aérea e Marinha brasileiras se rebelaram em defesa do direito de serem eleitos para o legislativo estadual (em alguns poucos estados: RJ, SP e RS)... Mas foi em 19 de março de 1964 (já em tempos de Ditadura) que foram condenados. Lições de liberdade, pequena Vitória... E lições de liberdade sempre me lembram Thiago de Melo nos Estatutos do Homem. Lá no artigo final, decreta: “Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e sua morada será sempre o coração do homem”. Que a luta por seus princípios e valores tenha sempre a defesa da liberdade universal como fundamento de luta e alegria, pequena Vitória.
            Alguns (muitos) nasceram em 19 de março. Uns em nem gosto e, claro, não vou trazê-los aqui, senão estraga nossa conversa ao pé de ouvido. Mesmo que trouxessem (e sempre trazem) lições. Mas, como nasceste no dia de Túpac Amaru II (Líder indígena peruano que lutou contra os conquistadores – aff! – espanhóis) e Augusto César Sandino (líder revolucionário nicaragüense). Só lembro de Chico Sciente: “Viva Zapara! Viva Sandino! Viva Zumbi! Antônio Conselheiro! Todos os Panteras Negras! Lampião, sua imagem e semelhança! Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia”. Coisas do Nordeste, Vitória... Mas, aqui, a lição (e, quando falamos de revolucionários, sempre são muitas as lições) a que me fez lembrar da via musical da família que a recebe, aí pertinho de ti. Eles cantam e espero que sempre cante suas vitórias e transformações.
            Por falar em música, e que coisa incrível, mais uma vez o Universal Circo Crítico lembra do saudoso Evandro do Bandolim. É que no dia em que recebemos Thiago, o pequeno italiano filho de uma amiga que anda pelas bandas da Itália, era o dia em que, anos atrás, perdíamos este artista mágico. Você nasceu no dia em que o mundo o ganhou. Evandro era paraibano e se destacou como um bandolinista de primeira linha no choro brasileiro.
          Lutadores do povo, soteropolitana, música aos montes... só poderíamos fechar esta conversa ao pé do seu ouvido falando de arte. Tá certo que foi em um 19 de março que perdemos Glauco Rodrigues, um artista profissional que, quando dedicava seu tempo ao lazer, continuava pintando. Um comunista por princípios, um gaúcho brasileiro, com sua obra espalhada Brasil afora... É claro que precisaríamos pintar nossa conversa com sua obra e, assim, deixar nossa última pequena e singela lição: pinte a vida, pinte seus aprendizados, pinte suas conquistas, suas lutas e enfrentamentos. Pinte sua alegria, suas brincadeiras, suas poesias, sua imaginação daquilo que imaginares...
            Nós, daqui do nosso palco, pintaremos nossa felicidade por recebê-la.

            Vida Longa a Vitória Cristina!
           
            Venham Todos!
            Venham Todas!

            Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

PS: o quadro acima foi conhecida no http://www.paginadogaucho.com.br/pint/gl-11.jpg, mas não encontramos o nome da obra do artista Glauco Rodrigues.

domingo, 8 de maio de 2011

Mainha...



Ninguém vai conseguir matar aquele tempo,
Ninguém vai conseguir jamais: nem nós (...)”
(Janela sobre uma mulher/3 – Eduardo Galeano)

            Foram tempos diferentes, aqueles...
            Sempre que o Universal Circo Crítico faz suas viagens no tempo, sabemos disso.
            Havíamos nos mudado, um ano antes, para um apartamento, na Rua Dr. Cesar, Bairro de Santana, Zona Norte de São Paulo... pertinho do metrô.
            Nos primeiros tempos do apartamento, recordo-me de meu pequeno e infantil fetiche de “andar de elevador”. Painho/mainha ainda tinham o enorme Ford Galax que era meio espaçoso para guardá-lo na garagem do prédio, que era subsolo e, sempre que saiam, meio que assustavam os pedestres, pois era uma pequena rampa para a rua e ele/ela tinha que fazê-lo buzinando.
            Talvez tenha sido o tamanho do carro (enorme para crianças de 7 e 9 anos, à época) que fez painho trocar o velho Ford Galax cinza pelo lendário Maverick. Mas este tinha um moderníssimo Toca-fitas, e escutávamos Beth Carvalho, Elis Regina e Saltimbancos, e eu e minha irmã disputávamos o refrão puxado de “O Jumento” (mas eu sempre adorei o Cachorro da história) sempre que mainha colocava a fita (“O pão, a farinha, feijão, carne seca quem é que carrega? Hi-ho!”).
            Já em nosso apartamento (eram apenas dois por andar, e morávamos no 5º andar, com uma vista bacana – hummm... – da cidade), lembro que mainha tinha uma criação de passarinhos e um piano, do tipo baú.
            Vez por outra (mais vez que por outra), mainha tocava e, entre as outras vezes, com a porta do apartamento aberta. Lembro uma vez que nossos vizinhos resolveram seguir o som daquela música que mainha tocava e, que interessante e feliz coincidência, o fizeram numa das vezes em que a porta do apartamento estava aberta. E mainha tocou, orgulhosa toda, para as visitas.
            Também tínhamos um violão, um Del Vecchio, cuja fábrica não existe mais há muito tempo e que, segundo mainha, havia sido presente do Velho Vô Hiram e que tinha uma acústica fantástica que, à bem da verdade, meus razoavelmente bem treinados ouvidos nunca mais testemunharam outra igual. Mainha o tocava também, mas preferia o piano. Talvez por isso – e por minha particular qualidade musical, herança de minha artística família (nem todos da minha geração tiveram essa... sorte!) – foi no piano que tive minhas primeiras viagens musicais.
            Minha professora era a minha vó materna, Vó Célia. Tínhamos aulas duas vezes por semana, na casa dela. Eu estudava pela manhã (estava na 2ª série do primário – hoje Ensino Fundamental) e a tarde estudava piano.
            Gostava do passeio à Vila Madalena, onde minhas aulas aconteciam. Aprender a ler partitura (isso eu já esqueci) e “educar o ouvido”, ficando de costas para o piano enquanto minha vó tocava nas teclas para que eu dissesse as notas. Adorava as difíceis, quando ela me testava e tocava as teclas pretas, as sustenidas. E, claro, o bolo de cenoura com cobertura de chocolate após a aula.
            Em casa, entre minhas brincadeiras particulares (minha irmã estudava a tarde), meus desenhos no canal 7 e os estudos do piano, minha primeira incursão autônoma, “de ouvido”, foi Asa Branca. E nesta minha primeira incursão, tocávamos, eu e mainha, a quatro mãos. E tocávamos Asa Branca.
  O Piano que ainda sei que arranho (o suficiente para, em tempos do Afã – a lendária e desconhecida Banda de Rock de meus tempos paulistanos – ter uma música composta in-te-i-ra-men-te no piano) e o violão que me acompanha a vida até hoje (que, reitero, não tem a mesma acústica do bom e velho Del Vecchio de mainha) devo a estes tempos: de aulas de piano com minha vó, de estudos e treino em casa e de Asa Branca a quatro mãos com mainha.
  Tenho saudades destes tempos (que eram duros para meus pais, avó, tias... coisas da Ditadura). Mas, que bom que ninguém conseguirá acabar com os BONS TEMPOS daqueles tempos.

            Vida Longa a mainha!

            Venham Todos!
            Venham Todas!

            Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

terça-feira, 3 de maio de 2011

Casamento Real...



“(...)
Lembro-me daquela estrada
Meu pai fumando charuto
Um casamento matuto
A noiva toda enfeitada
Depois o arrasta-pé
Você sabe como é,
Uma poeira danada.
(...)
(Walter Medeiros)

            Me desculpem aqueles que se maravilharam, aqueles que ficaram assistindo, que não perderam nenhum detalhe e coisa e tal.
            O primeiro trecho do documentário que ajudamos a democratizar meio que demonstra o que nos angustia quando nos deparamos com a notícia de que cerca de 2 bilhões de pessoas assistiram ao vivo o casamento de membros da família real britânica.
            Se a humanidade, se a imprensa mundial, se “grandes” líderes (entre aspas mesmo) mundiais conseguissem mobilizar tanta gente assim para romper com todas as formas de exploração no mundo, mal conseguimos – assim, na nossa lona de circo pequeno – imaginar como seria.
            Mas, o Casamento Real – assim chamado por ter unido, em uma celebração “vendida e comprada” pelas redes de comunicação do mundo inteiro, o príncipe Willians e a plebéia (não mais, aliás, uma plebéia até que bem abastada financeiramente) Kate Middleton – não dá p’ra ser chamado de... real.
            É claro que ficamos a pensar: realmente estava, o mundo, ansioso por saber como seria o vestido de Kate? Queríamos, realmente, conferir o desfile de chapéus das convidadas? Ver quem estava em os 300 convidados para a festa?
            Nos interessávamos, realmente, em saber que o carro com o qual o casal circulou “livremente” pelas ruas de Londres era modelo dos filmes de James Bond?
            Caça às gafes? Pra que?
            Casamento Real... Não tive dúvidas!
            Casamento que é chamado pelos felizes (hummm...) passantes entrevistados pelos jornalistas brasileiros presentes (mas bem separados da festa) nos festejos da realeza de “conto de fadas” não pode ser... real... nem conto de fadas.
            Mas, aqui passamos (em meio a notícias sobre a morte de Bin Laden) para inaugurar, também, este tema: Casamento Real, do tipo, Casamento de verdade...
            Ainda não o sabemos, de fato... mas o saberemos.
           
            O Universal Circo Crítico aqui anuncia: não será mais um Circo só... Nunca o foi, mas agora, será “não-só” diferente...
            Este circense irá casar...
            E, claro, iremos falar de um Real Casamento Real durante algum tempo...
           
            Venham Todos!
            Venham Todas!

            Vida Longa!
            Marcelo “Russo” Ferreira

            PS.: agradeço à companheira e professora Celi Taffarel por nos divulgar este fantástico vídeo. Ela o fez em tempos de “Feliz Páscoa”... nós optamos por este outro evento. Nada muda em sua denúncia.